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A organização deste livro é um gesto rumo a este desafio: compreender como o modelo de realização cultural do imperialismo americano se tornou a metonímia da própria cultura planetária atual e, assim, fornecer subsídios críticos para analisar o estado atual da teoria e da produção culturais predominantes dentro e fora da Universidade, no contemporâneo, além de observar e evidenciar como a caça às bruxas do nacionalismo e do marxismo revolucionários, de base anti-imperialista, concebida como o lugar do rigor, tem sido, na verdade, a extrema traição ao rigor que realmente importa: o do pensamento e da criação comprometidos com o fim da barbárie coletiva burguesa, de onde seja possível falar em rigor da práxis e da práxis do rigor com um mesmo movimento rumo à justiça dos e nos povos, quando não submetidos por soberanos, por oligarquias, por imperialismos.
Este livro é o resultado de pesquisa de doutorado, constituída de um estudo acerca da recepção da obra de Paulo Coelho pela crítica literária e pelo leitor, envolvendo a indústria cultural, sob a perspectiva da Sociologia da Literatura. Editora: Edifes Ano: 2021
Um leitor bárbaro, que não respeitasse as regras do jogo estético, é o que Cortázar idealizava desde seu primeiro escrito consistente de crítica literária: Teoria del túnel e que realizou em O jogo da amarelinha. Leonardo M. Neves destaca esse traço que atravessa a obra do escritor argentino e, com isso, ascende o diálogo com toda a tradição filosófica, que é puxada pela força centrípeta do romance a dançar no ritmo da literatura. No entanto, não de qualquer literatura, pois não lhe interessa aquela que "tranquiliza o proprietário honesto", senão a que se realiza no swing entre leitor, escrita e autor e os desloca para outros lados com o intuito de destruir a sintaxe e o...
O vínculo entre a literatura e a teologia é a palavra. E toda palavra é criadora, pois somente uma é a Palavra e toda palavra deriva dela. Quando Deus fala ao homem, faz do homem seu interlocutor final; é para o homem que a palavra se manifestou no mundo e é no homem que ela ganha símbolo. A palavra do homem é potência da Palavra de Deus. Mesmo quando um livro não fala do nome de Deus ou não se ocupa em falar de coisas sagradas, ainda assim diz "Deus", pois, na palavra, o homem sempre cria, e o criar pela palavra é preeminência de Deus, primeiro criador que criou do verbo. Estas palavras do homem são sempre um falar do mundo humano para poder expressá-lo fora-de-si para um outro-de-si. Interlocutor primeiro da literatura é o homem, mas Deus nunca deixará de ser o interlocutor último de toda prosa e verso.
Se a violência imperial mais impactante consiste no epistemicídio e, portanto, sua sequela mais longeva incide sobre a identidade cultural, a fabricação dessa identidade constitui material revelador sobre os modos de gestão do legado colonial. Investida de conotação jurídica sucessória, a acepção de legado tem operacionalidade conceitual por sinalizar que a descolonização, longe de cumprida com a independência de jure, não prescinde, para se lograr independência de facto, da logística dos bens materiais e simbólicos herdados. Como o legado tem estatuto indeferível e o legatário não pode ignorá-lo de todo, mas pode, sim, investi-lo de sentido outro que não o original, o...